Eu sou daquelas pessoas que se anda sempre a queixar que dói
aqui e ali, mas que nunca vai ao médico. Ok, às vezes, quando me chateiam muito
a cabeça vou… o problema é que a experiência não é boa, o que cria reticencias
sempre que necessito de voltar.
Há um ano atrás andava eu a fazer testes de gravidez uma vez
que aquilo que é suposto acontecer todos os meses não acontecia. Os testes eram
negativos, a coisa não se dava e lá consegui consulta para o início de Setembro
com o médico de família.
O médico de família ao ver a quantidade de exames que tinha
que me mandar fazer, e fazendo contas ao seu plafond, mandou o processo para a
Maternidade Júlio Dinis, actual Centro Materno Infantil do Porto.
Fim de Novembro, fim mesmo, dia 28, chama-me para a bendita
consulta. Uma médica revoltada com o sistema, com os cortes, com a falta de competência
do pessoal da secretaria, diz-me que fui mal encaminhada, pelos vistos a
senhora atendia Ginecologia Geral e não Planeamento familiar. Mas lá me atendeu
e fez processo.
Na secretaria informam-me que não me podem marcar consulta
nem os exames solicitados uma vez que ainda não tinha agenda para 2014. Mas eu
é que sou mau feitio…
No final de Janeiro, dirijo-me à Maternidade Júlio Dinis
para saber quando seria a tal consulta, dizem-me que continuam sem agenda, que
não sabem se a doutora vem, que meteu atestado, mas que garantidamente
receberia uma carta em casa… (breve, sintomas em Julho, estamos em Janeiro, se
fosse gravidez bem nascia a criança sem eu ter consulta)
A carta lá chegou para fazer uma ecografia a 25 de Fevereiro
e outra carta com a bendita consulta para o dia 4 de Março. (mas eram duas
ecografias pensava eu com os meus botões)
Dia 25 de Fevereiro lá fui fazer a eco, quando fui pagar
descubro que a outra eco que era suposto ter feito, mas que não me avisaram,
tinha sido cobrada, tal como o exame de despiste do cancro do colo do útero,
que é gratuito e obrigatório. Paguei, bufei muito e reclamei ainda mais.
Marcaram-me a eco que faltava às pressas e dizem-me para reclamar o pagamento
do exame com o médico de família, pois ele é que o deveria ter mandado fazer,
sendo pedido por Ginecologia Geral tem o custo de 5€.
Pés ao caminho, toca a ir reclamar ao centro de saúde, mas
para reclamar com o médico tinha de pagar 5€ de consulta… eu respeito muito
quem trabalha neste país, não fui mal educada com nenhuma das funcionárias, mas
confesso que me saltou a tampa e reclamei bastante… Disse adeus aos 5€ e
aguardei pela consulta.
Dia 4 de Março lá fui, o médico atrasado, sim, médico,
afinal a doutora sempre se foi embora, nem para a minha cara olhou, falava
entre dentes, tinha uma assistente tímida de olhos no chão e lá me disse que
iria fazer um tac e ter nova consulta em Julho, que era para operar. Mandou-me
entregar umas folhas na recepção e chamou a próxima.
Fiquei a saber que lá para Julho teria consulta, entretanto
iria receber as cartas com as datas dos exames e da consulta, se não recebesse
era melhor ligar a perguntar.
Chegamos a Julho, lá recebi as cartas, uma para análises, o
bendito tac e a consulta. Como nenhuma das cartas indicava o local fui tentar saber…
estavam a deitar abaixo os pavilhões da Maternidade Júlio Dinis e lá descobri
onde fica o novo, e ainda em fase de acabamentos, Centro Materno Infantil do
Porto.
A única porta a funcionar era a das urgências, gente bem
disposta e simpática lá me disse onde iriam ser as análises o tac e a consulta.
As análises correram bem, apesar de ter estado 1h em pé numa
sala lotada de grávidas, algumas delas a fazer prova da glicose e sem cadeiras
suficientes para todas. (quer dizer, havia mas como algumas traziam a família toda
a coisa complicava-se)
O tac foi marcado, em jejum para as 17h45 em dia de greve
dos médicos, wii sorte malvada… lá fui eu perguntar se havia ou não médico, ao
que me explicaram que era um técnico de radiologia e como tal não devia ter
problemas. 1h depois do previsto lá estava um enfermeiro bem disposto a
chamar-me e a explicar-me o que ia acontecer.
Dia 24 de Julho lá vou eu à consulta, desta vez não atrasou
muito mas fui das coisas mais estranhas que me aconteceram em 37 anos de utente
do Serviço Nacional de Saúde, passo a transcrever:
- Bom dia Paula, está tão gira! Sente-se…
- Obrigada!
- Shit! Não tenho aqui o relatório da tomografia…
- Não?
- Faça o seguinte, ligue-me 5ª feira de manhã.
- Ok, eu ligo!
- Combinado.
Aperta-me a mão e eu saio meia abananada com a consulta mais
estranha que já tive. Vou à menina da recepção e explico o que aconteceu, ela
dá-me o número de telefone e até a extensão do médico, informa-me que é uma
telefonista que atende na central, caso eu consiga que me atendam. (MEDO!)
Chega 5ª feira e eu passo a manhã pendurada ao telefone, “o
número para o qual ligou não se encontra disponível, por favor tente mais tarde.”
Até ao 1820 liguei e o número que me deram era o mesmo.
De tarde, pés ao caminho, informam-me que o médico só estava
de manhã, dizem-me para voltar a ligar 2ª, ou 3ª ou 5ª… (inspira, expira…)
2ª feira logo de manhã peguei no telefone fixo, liguei,
ti-ti-ti… Que se lixe, vou para a praia, hoje não me apetece chatear com isto.
3ª feira, hoje, ti-ti-ti… Vou ao Google e procuro o número
do Centro Hospitalar do Porto, onde me informam que o número que tenho estado a
ligar se encontra avariado sendo normal eu não conseguir a ligação. Só quando
eu perguntei se me conseguiam passar a chamada um a vez que eu tinha a extensão
do médico é que me disseram que sim. E começou uma nova odisseia:
No consultório atende a assistente, explico o que se passar
e ela passa ao médico, explico quem sou e este pede-me para esperar enquanto
despacha a doente, despachada a doente diz-me que continua sem o relatório do
tac e pede-me que ligue de volta e peça para transferir à Secretaria de
Radiologia. (entretanto dá-me o número do processo)
Ligo de volta e solicito a transferência para a Secretaria
de Radiologia, espero e espero, atendem, explico o que pretendo e passam a
chamada, espero e desespero, atendem e passam ao Raio X, espero mais um bocado
e lá me atendem, explico a situação, “mas quem é a senhora? Só podemos dar a
informação ao médico…”
(inspira, expira, não insultes a senhora que ela não tem
culpa)
Com muito jeitinho voltei a explicar a situação, esclareci
que não pretendia saber o resultado do exame, apenas precisava que o colocassem
disponível no processo para o médico consultar e me dizer se vou ser operada, a
quê exactamente e já agora (não querendo abusar da sorte) quando.
“- Então diga ao médico que o exame foi para o SMIC e como
está a ser analisado externamente não temos acesso ao relatório.” (era difícil?)
Ligo novamente ao Cento Hospitalar do Porto, solicito
transferência para o médico e transmito o recado.
“- Olhe, ligue-me 5ª feira a ver…
- Obrigada, até 5ª!”
FODA-SE!!
Ao fim de tudo isto já me sinto no direito de ser mal
educada… Se fosse para parir já tinha parido, se fosse para morrer já tinha
morrido… claro que eu já sei o que tenho e que não mata, só mói, tenho de ser
operada, sabe-se lá quando, até lá, bem, até lá espero sentada e de boca
fechada porque se reclamar muito se calhar não me operam.